quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Carnaval de Outubro - Cafeína, Dopamina e essa menina.


Tua camiseta diz: Se o leite acabou, aperta a vaca. Daí eu me dou conta da conversa em andamento, mesmo sabendo que tu não te importa que eu só aparente estar ouvindo.

É como rasgar um guardanapo, tu me diz. Será que é mesmo? Eu fico me perguntando como se já não soubesse a melhor das respostas pra essa pergunta. Num movimento rápido eu me levanto por sobre a mesa, empunho o dedo e. E nada. Tu me olha e eu não sei se perco meu tempo falando ou simplesmente mastigo a coragem goela'baixo.

“É como rasgar um guardanapo, quando tu menos vê ele rasga.”

“Quantas vezes tu já me disse isso?”

“Sei lá.” Esse teu olhar, essa tua resposta como se eu fosse o campeão das perguntas erradas, ou as perguntas certas na hora em que não se precisa falar nada. Tu ignora a natureza violenta do meu medo, da minha ansiedade transformada em batucada de carnaval na borda da xícara estatelada na minha frente. “Samba comigo, morena.” Fico pensando. Samba comigo no frio de agosto com um dígito só de temperatura. Não ri quando eu olho pros teus peitos e me explica que porra de história do guardanapo é essa.


Não. Ainda não. Falta um pouco ainda pra deixar essas coisas fazerem parte do velório do que um dia poderia ter sido a coisa mais bonita do mundo. Ainda bem que essas tragédias ficam sumidas. Minha maior façanha – do dia em que nos conhecemos até hoje – é a minha capacidade de nos julgar merecedores disso ou daquilo. De nos privar de um uma manada de bobagens que um dia nos aproximaram e foram virando osso roído. Meu olhar te diz, deixa pra mim, eu sei o que estou fazendo e pra onde estamos indo. Por dentro eu não contenho o sorriso, se tu não tivesse chorado a noite inteira, teria uma enorme certeza de que estamos indo pelo caminho certo.


Essas paixões não passam de uma febre que vem e que passa. Paixão de riso e de choro. Não é regalia de um estado de espírito ou de outro. É isso, é febre, é doença. No meio desses pedaços de pele relando um no outro, um certo outubro se arrasta por entre uma camisinha usada e um box pequeno demais pra acomodar duas pessoas querendo se livrar de um suor amigo. Tua maior façanha fica entre os dedos e essa doença, esses calafrios de boa noite. No fim do dia tudo vira uma maldita dança inventada, uma coisa de gozo e champanhe barato, um glamour de consultório de revista que não nos leva a lugar algum. “Vem, morena, vem sambar na minha burguesia de aluguel.”.


Tu me inspira um samba enredo sem fãs e sem coro. Pra esse samba não tem nem como matar o gato e pegar o couro pra fazer o tamborim. Inspira. Expira, comigo, sem perceber e já batendo nos bolsos e na saia procurando por um cigarro. Tudo que tu tem é essa doença, esse amor meio vulgar meio novela das oito. Essa febre, tuas bochechas vermelhas e esse calor estranho são uma grande bobagem sem propósito, mas tuas coxas tão lindas hoje, fico pensando, já absolutamente entregue, sem pensar no que fica escondendo nas sapatilhas ou entre os lábios.


Eu te encaro e limpo as mãos com o guardanapo de pano, não com o de papel. É quase sempre o teu sorriso que rompe a minha carranca. E é sempre tu que quebra o silêncio. Sempre foram tuas essas coisas de fada.


“Eu te amo.”

“Eu também te amo.”

Nenhum dos dois quis dizer aquilo. Nossas cabeças bêbadas vão traduzindo aquelas frases conforme os sinais vão aparecendo. Teu esmalte vermelho'paco. Tua chuva presa nos cílios e teu talento pra inflamar o meu flerte discreto com a garçonete lá no canto. Tu ri da minha cara e ainda pergunta, E eu acredito que tu não sabe nada de nada de ninguém. Fico achando que em silêncio até poderia quem sabe me apaixonar por ti, mas tu não gosta de silêncio e quebra ele como poucas.

“Tu vai querer mais um café?”

“Vou.”

“Isso não vai te fazer bem.”

Irritado, limpo os lábios no guardanapo sujo, meneio um sorriso e deixo tua mão encontrar a minha, sem proposito, sem jeito nem direção.

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