sexta-feira, 3 de setembro de 2010

De cinco a nove, sem ano.

Ai cada um fica deitado ao contrario na cama. A satisfação ofegante não da trégua nem inspira grande cuidado. Enquanto eu fico tateando pelo frio nas minhas roupas no chão, tu finge um cigarro entre os dedos e uma curiosidade descabida sobre meu meio silencio meio grito sorrido. Bobagem de lado, é um silêncio de ponta de negativo fotográfico, aquela ponta que a gente corta antes de revelar, que não serve pra muita coisa. É bem esse silêncio, um que dá pra cortar mas fica do lado de coisas importantes.


Não tenho idéia se tu te Importa com os vizinhos e meu jeito não muito discreto de te segurar pela anca feito bicho xucro, meus dentes no bico do teu seio e o pouco caso das cobertas no pé da cama pela tua cabeça.

É uma pedaço still de uma coreografia apressada. Não... é uma coreografia desengonçada.


“Se tu for na cozinha, cuida pro gato não fugir.”

“Eu não ia na cozinha.”

“E agora vai?”

“Talvez.”

“Eu posso pegar algo pra gente tomar.”

“Que bom.”

“Poxa ta tudo bem? “

“Já pensou se a sala fosse um outro mundo?”

“Que?”

“Nada. Deixa ser. Eu aceito algo pra tomar sim.”


E tu me olha balançando a cabeça, sem saber se entende ou se não da bola. Enquanto tua bundinha vai pra lá e pra cá eu tento me convencer de que tu não vai voltar em uma nave espacial, pronta pra invadir e colonizar a cama com uma cultura absurda e descabida, do tamanho dos teus beijos. No fim, tu perde meu canto desafinado brincando com uma canção brega. Melhor assim. Melhor não pensar na tua cara de repreensão e na invasão alienígena vinda da cozinha. Aposto comigo mesmo que tu e o gato estão discutindo os planos de conquista da cama e do que sobrou de mim e não virou suor no colchão. Que maneira bonita de agradecer o meu empenho e comprometimento com o prazer ali velado. Palmas pra minha bobagem arrogante. Palmas pro teu clímax mudo.


Me escondo um pouco no travesseiro um pouco nas cobertas. Pra que tanta demora? Me certifico de que tu não voltou e eu não percebi. Ponto pra mim. Mesmo com medo de abrir a janela e pegar um resfriado. Ok. Meio ponto. Eu escuto o gato miando e o barulho da água no copo. Ate ouço teus passos no corredor. Tu não sabe, mas eu não vejo nada. Talvez até seja melhor assim.


“Tu dormiu? “

“Não.”

“A água tava muito gelada. Trouxe o resto do refrigerante.”

“Eu não gosto de refrigerante.”

“Não consigo ver isso como um problema meu.”

“Vocês alienígenas são muito pouco cordiais. Sabia que não era uma missão de paz.”


Aí tu segura a água nas bochechas, dá uma risada de “melhor não contrariar”, e eu já vou procurando tirar tua calcinha de novo, para muitos protestos e poucas glorias. É sempre meu desejo celebrar as missões de paz bem sucedidas em busca de água em outros planetas, ou na nossa cozinha.